terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Barquinho de papel


Quando eu era criança, fazia barquinhos de papel e ficava triste quando eles afundavam. Na verdade ainda fico.
Estranhamente, olhando os barquinhos na água, naveguei pelas emoções. Descobri que há uma palavra que esconde em seis letras um grande mistério. Que pode expressar num mesmo significado aquele sentimento de ser abraçado pela felicidade, mas também aquele momento em que o chão lhe falta sob os pés.  Essa palavra consegue juntar num mesmo angu mental a dor que aperta o peito e a alegria que aquece a alma. Emoções são distintas mas são a mesma coisa. É o paradoxo de unir o bom e o ruim juntando apenas três sílabas, fazendo do grande tudo uma pequena coisa só. Amor e ódio, ambos podem ser a mesma coisa se considerarmos que tudo é emoção.
Hoje foi o dia em que eu mais fiz piada da vida estando triste diante da realidade. Em apenas algumas horas, meu corpo experimentou as emoções cotidianas, mas foi diferente; o cotidiano brilhou aos meus olhos com a percepção de que o afeto me afeta. A felicidade me contagia, mas também a tristeza e o desespero me atingem da mesma forma.
Tudo coexiste dentro de nós; emoções são forças que não se anulam. Não há felicidade tão grande que apague uma pequena tristeza. E não há tristeza tão grande que apague uma pequena felicidade. Os sentimentos vêm, nos tocam a pele e da pele para a mente é questão de um milésimo. Nos envolvemos por algo que era externo, mas  que penetra nosso ser, nossa existência, e passa a ser nosso. Emocionar-se é participar da existência e da vida das pessoas.
Os momentos são golpes que nos cortam, lapidam a nossa vida. E no final, de uma pedra sem brilho nos tornamos uma peça única e rara. De um papel em branco, quando nasci, me tornei um barquinho dobrado, lutando contra a maré e o vento, esperando que eu demore um pouco mais para derreter. Navego, à deriva, pelo êxtase e quase naufrago na angústia.
Chegar em casa, ver meu irmão de seis anos correr para me abraçar. Ver minha mãe no fogão, cansada, a preparar a janta para mim, sorrindo. Ligar para aquela pessoa tão amada e sentir na voz dela o choro de desespero, contido. Ouvir a risada de outro amigo, aquela que esconde um sutil gemido de agonia, quase imperceptível. Ver no olhar feliz um brilho triste. Entrar no quarto e ver a cama pronta. Atender o telefonema de alguém que pede ajuda. Ver meninos de rua vendendo bala no sinal. Tudo isso faz parte do cotidiano prosaico e cinza. O comum. O que acontece todo dia e eu nem vejo! É como se eu tivesse comido todos os dias e nunca tivesse sentido o sabor. Viver sem perceber a força da emoção é como comer comida sem sal.
Desses “sabores emocionais” que provei hoje, o sabor mais amargo foi perceber que até os sonhos têm um fim. E que a verdade facilmente se torna mentira, que o riso pode virar lágrima. Nada é fixo, tudo pode mudar, e eu nem sempre posso impedir que as coisas aconteçam, pois a vida da gente é como um grande rio que segue seu curso. E aqui estou eu: à deriva, num barquinho de papel  fadado a derreter. E afundar.

By Emerson Wolaniuk.  - http://www.ydaquestao.co.cc/

 - Este texto não é meu, é de um amigo muito especial que está viajando pra longe... vai pra Europa, hummm... não demora muito, dentro de pouco mais de um mês ele volta pra gente ...
Ele escreveu esse texto no blog dele, em uma época que foi difícil para muitos conhecidos, principalmente pra mim, ele sensível e solidário escreveu esse texto que estou postando hoje em homenagem a ele, pela sua viagem e sua amizade ...

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